quinta-feira, setembro 3

Mãe a tempo inteiro: regra de sobrevivência #1 - agarrar as manhãs e planear os dias



Ao longo de quase um ano em casa com o Henrique, tenho-me apercebido que há rotinas que tornam o dia fácil de gerir e que a falta delas torna o dia insuportavelmente pesado. Diria que o fundamental é agarrar as manhãs, arranjar-me juntamente com o pai, depois do Henrique beber o leite dele, enquanto ele brinca ao pé de nós na cadeirinha da papa. Encaro o dia com o meu bebé como um trabalho e por isso levo-o a sério. Arrastar-me de pijama, não ter horários para comer e viver em função apenas das necessidades do bebé enquanto nos descuidamos, não é bom para ninguém. De manhã ele está fresquinho e aguenta-se a brincar "preso" enquanto nos arranjamos enquanto, no resto do dia, é mais difícil consegui-lo, e ter um bebé à solta numa casa de banho enquanto tomamos banho é o pânico... Já basta quando começar a andar! Passada essa fase, estou bem para qualquer programa, sobretudo para sair de casa que é a melhor forma de entretê-lo.

Outra coisa que é importante é, por isso, planear as atividades do dia seguinte, de preferência na noite anterior. Sem grandes elaborações, equilibrar a semana entre programas que sejam dedicados às crianças e a nós - os nossos variam no bairro e em jardins, visitas à família e amigos, programas especiais como a Quinta Pedagógica ou o IKEA, com os quais ele delira, mas também atividades essenciais como tarefas domésticas, compras no supermercado e no mercado, tratar de assuntos burocráticos, fazer alguma compra necessária... Ele entretém-se imenso a olhar para tudo, mesmo nestas andanças e toda a gente se mete com ele, o que também é excelente para a socialização.

Nos dias em que não conseguimos arranjar nada de especial para fazer fora de casa, é preciso ter algum espírito criativo para criar atividades que lhe despertem interesse. Além dos brinquedos dele, pequenas coisas como caixas para batucar, chaves para fazer barulho, papéis para rasgar, tecidos para fazer tendas e esconde-esconde, colheres e molas da roupa para roer ou água no bidé para chapinhar são coisas simples que fazem as maravilhas dele. Até papel higiénico experimentámos ontem desenrolar! Também ouvimos músicas para crianças no Spotify (os cd's da Carochinha sobretudo), que tento aprender para cantar para ele, conto-lhe histórias com muitos gestos e voz teatral. Tento deixá-lo brincar sozinho, para que saiba entreter-se, mas despertar-lhe o interesse em novas coisas com que possa fazê-lo. Entre brincadeiras, refeições e soninhos, o dia passa mesmo muito rápido. Chegamos os dois estafados às 20h, hora de chegar o pai, do jantar e da caminha para ele.


quinta-feira, agosto 27

Dormir juntinho a ele, um desejo impossível


Nas noites em que ficamos só os dois em casa, o mini e eu, fico com uma vontade louca de o trazer para o pé de mim e de dormir com ele. Ter aquela coisa boa, com cheirinho a bebé do banho recém tomado, a respirar tão suavemente ao meu lado é uma verdadeira guloseima. Quando era mais bebé, chegámos a dormir assim com ele nas manhãs de fim-de-semana e era uma verdadeira delícia. Na verdade acho que não dormia, ficava só a apreciar a nossa obra de arte... 

Nesta fase mexediça em que está seria, infelizmente, demasiado perigoso. Agora não conseguiria mesmo dormir sossegada com medo que ele caísse da cama, mas fico completamente derretida a vê-lo dormir no berço nas suas posições estapafúrdias e a sonhar com o dia em que possa cumprir esse desejo, só uma vez de vez quando como me lembro de fazer com a minha avó... Memórias tão doces essas de expulsar o meu avô (dizia na minha inocência que "os avós já não namoravam por isso não precisavam de dormir sempre juntos!" - o riso da família materna toda, ainda hoje) e de adormecer com a história do coelhinho das couves. Não importava que fosse a mesma, o sabor de adormecer assim embalada pelas palavras e pela sua voz é inesquecível. 

Não



No domingo rimo-nos à socapa quando percebemos que ele já sabe o que é um "não". Quando se aproxima de algo mais perigoso, redireciono-o e digo-lhe que aquilo não é para ele. Para grande espanto nosso, nesse dia ia direito à mesa da televisão e eu disse-lhe "não, Henrique" e ele recuou, olhou para mim e foi para outro lado. Voltou a tentar e foi exatamente a mesma cena. É muito interessante para nós, que somos pais pela primeira vez, ver como é realmente possível educá-los desde cedo e como as nossas ações têm influência no comportamento deles. Parece básico, mas não deixa de ser surpreendente assistir ao crescimento de um filho como um espectáculo digno de pasmo.

terça-feira, agosto 25

Amour


Quando o mini adormece cedo e conseguimos jantar a horas, uma das coisas que mais gostamos é de ver um filme. É dos poucos programas a dois que não mudam, porque temos a sorte de ter um bebé querido que nos dá quase sempre noites óptimas. Também adoramos ir ao cinema mas acho que só fomos uma ou duas vezes desde que ele nasceu. 

Esta semana não nos apetecia ver nenhuma americanice, e conseguimos ver finalmente o Amour do Michael Haneke. Para quem não viu, o filme retrata a degradação do membro feminino de um casal e a dedicação do marido até ao derradeiro fim. A história tem tudo para ser de chorar de uma ponta à outra, mas a beleza do relacionamento entre os dois na dignidade com que mantêm velhas rotinas, na forma como preservam algum pudor, nos interesses como a música que preservam e os animam, mesmo durante a doença dela, tornam o filme tão natural que acaba por ser um murro no estômago a seco, sem lágrimas. Pouco conversámos sobre o filme, mantivemo-nos acordados e presos à televisão nos momentos mais silenciosos e difíceis e sinto que fomos dormir aconchegados por nos termos também um ao outro. Muito temos para caminhar até lá mas acho que estamos no bom caminho. 

Dilemas de mãe #6


Como é que não se perde peso a andar atrás deles o dia inteiro se chegamos ao fim do dia mortas, com vontade de ir dormir imediatamente depois deles ferrarem no sono? Com tanto passeio no bairro, a carregar muitas vezes compras pesadas, com tanto embalo de mais de 9kg, com tanta arrumação, esfregar de bolsado aqui e acolá, varrer bolachas esmigalhadas, dar banho agachada a controlar mil pinotes dentro de água... Como!? Para mim é um mistério... É que nem tempo para comer tenho! Vou acabando o iogurte dele, comendo uma bolacha Maria quando ele também come, atirando meia dúzia de amêndoas torradas para a boca para não desfalecer a meio da manhã... Nada assim tão dramático que justifique estar com mais 7/8 kg acima do desejado. 

sábado, agosto 22

Vício bom

Naquela cara irresistível de estranheza/surpresa que ele faz quando experimenta algo novo. Tento que isso aconteça de 3 em 3 dias (o prazo mínimo para testar se um bebé é alérgico a um novo alimento). Quando não é um novo alimento é a forma como o apresento. Não gosta de melão triturado, por exemplo, mas adora roer um bocado maior que lhe foi com a mão. Nem tampouco de uvas à colher, gosta que lhe parta aos pedacinhos e que lhe vá dando também entre os meus dedos à boca dele. Os olhinhos dele brilham de felicidade de poder provar o que me vê a comer. O prazer da (boa) comida aprende-se de pequenino e a educação também passa por aqui. 

quarta-feira, agosto 19

De mãe para mãe grávida


Gosto de saborear cada fase e mesmo de aprender mesmo com aquelas que não quero lembrar mas ontem, depois de ter estado com uma amiga que está à espera de bebé e que tem as mesmíssimas dúvidas que eu tinha há um ano atrás, fiquei sem vontade nenhuma de estar a viver aqueles momentos de ansiedade agarrada a listas de maternidade, a ter pesadelos com o parto, sem saber exatamente se ia ser capaz de ser mãe. Claro que vou passar por muito disto outra vez quando estiver grávida novamente, e que ainda estou a descobrir tudo sobre ser mãe, mas já não será a mesma coisa nesta espera, já não terei tantas dúvidas como da primeira vez. 

O que mais gostava de emprestar a esta amiga, além de roupinhas bonitas e afins, era a certeza que este grande amor nos dá ferramentas mais que suficientes para enfrentar qualquer logística. O que é bom, nesta perspetiva de quem já passou por essa fase, é que afinal não teríamos precisado de ir à loja Y para comprar uma touca XPTO para a maternidade, ou duas "porque eles pedem", de comprar horríveis cuecas descartáveis para a maternidade porque as de algodão dão perfeitamente, de comprar muitos folhinhos, porque o que interessa é mesmo ter os básicos todos à mão, sem floreados, para aproveitar aquela maravilha que de repente nos cai no colo. Também não são precisas fraldas de marca durante meses a fio (as de marca branca até têm menos químicos e fazem exatamente o mesmo), cadeiras da papa que só servem aos 6 meses, pinturas no quarto de que ele só vai usufruir realmente muito depois, cortinados e afins, mas eu sei que queremos dar o melhor ao nosso bebé e que toda esta correria de tratar, comprar tudo quase até ao promeiro ano de idade, pintar, arrumar e até polir rodapés (eu!) ajuda a acalmar os nervos e faz o tempo andar mais depressa. 

Corro o risco de querer ser prática demais, mas das poucas coisas que eu sei que posso verdadeiramente fazer por ela, depois da experiência demasiado intensa de visitas que tive em casa, é ser prestável e invisível. Já a alertei que só irei vê-la quando me pedir expressamente e irei munida de comida para ela e para o pai, além de tudo o que me pedirem. Sei que vou olhar para ela, antes mesmo de ver o bebé, e dizer-lhe que vai ser uma grande mãe e que já está a dar lindamente conta do recado. Não farei sala e tentarei não sair sem pôr a roupa a lavar e dar um jeito na cozinha. Depois dos empréstimos, que tanto jeito dão, tenho a certeza que na maior amizade está também o espaço que se dá aos pais quando nasce um filho. A experiência afinal conta mesmo para alguma coisa. 

A fotografia é literalmente de há um ano atrás ;)