domingo, maio 31

A mãe investiga: as crianças e a televisão - a regra 3-6-9-12



Não há como evitar. As televisões estão ligadas à nossa volta. Nos primeiros meses, ora é porque o bebé está a mamar durante muito tempo e a mãe precisa de se entreter (defensores acérrimos da pureza da amamentação no silêncio podem ir crucificar-me, mas lá longe), ora porque há visitas e uma delas ligou para ver a bola, ora simplesmente porque está na hora do telejornal e a criança ainda está a comer. Depois é simplesmente porque precisamos de lhes cortar as unhas, calar-lhes uma birra que já não temos mais manobras para conter, enfiar-lhes mais três ou quatro colheres de sopa pela boca para irem dormir de estômago forrado... (mães, pffff..!)

Assim que acontece o primeiro contacto com os ecrãs da televisão, tablet ou telefone - tau! - é imediato. Fixam-se, ficam vidrados e parece que o mundo à volta não existe. O mesmo que connosco, é verdade. Basta pensarmos na atenção que perdemos nas conversas quando há uma televisão num restaurante, mesmo que o que está a passar não nos diga nada.

Cá em casa, enquanto o minúsculo era recém-nascido, tentámos sempre impedir que olhasse sequer para a televisão, mas a partir dos cinco, seis meses (agora) começámos a deixá-lo ver BabyTV durante 10, 15 minutos e havia uma música que ele adorava no telemóvel - vídeo inclusive. Sempre me enchi de sentimentos de culpa e por isso quis saber mais sobre o assunto.

Televisão em excesso, não obrigada

Os especialistas são unânimes: ecrãs (tv, computadores, tablet, telemóveis) sim, têm as suas qualidades educativas, mas quando introduzidos no tempo certo. E nos bebés menores de dois anos ainda não encontrei nenhum que não dissesse que não tem interesse nenhum e que até pode ser muito de prejudicial.

Porquê? Porque a criança ainda não conhece a diferença entre as duas e as três dimensões e esta intromissão na sua aprendizagem impede-a de distinguir bem as duas. Vários estudos da Academia Americana de Pediatria (este é claro sobre o assunto e acaba de ser atualizado) afirmam que a televisão antes dos três anos pode atrasar o desenvolvimento da criança, principalmente a linguagem e, mais tarde, a capacidade de leitura, a memória de curto prazo, tendo também repercussões na qualidade de sono e da atenção (cada vez ouvimos falar de mais casos de hiperatividade). E não é preciso estarem a ver televisão, basta haver um aparelho ligado no sítio onde estão para as interações dos adultos com as crianças serem menores e para os períodos de jogo serem mais curtos. O mesmo para os telemóveis, tablets, computadores, telemóveis.

A regra 3-6-9-12

Posto isto, e para simplificar a vida cá em casa, vou tentar adotar o método criado pelo psiquiatra Serge Tisseron que foi divulgado numa campanha em França sobre este assunto - a regra dos 3-6-9-12:

Até aos 3 anos: pouca presença de ecrãs ou evitar mesmo o mais possível (nunca mais de 10 minutos seguidos antes do primeiro ano, segundo o pediatra Mário Cordeiro)
Dos 3 aos 6: a criança pode ver televisão mas acompanhada e não mais do que 1h30, evitar que tenha consola de jogos própria 
Dos 6 aos 9: televisão e consola, sim, mas de acordo com as regras dos pais, a internet é desaconselhada antes dos 9
Dos 9 aos 12: internet sim, mas controlada e a presença nas redes sociais não é aconselhada
A partir dos 12: internet e redes sociais permitidas mas controladas pelos pais

Aparentemente não sou a única mãe/educadora (sim, não sabia, mas as crianças também vêem televisão na creche) que deixa o filho ver televisão por um curto período antes dos 3. Segundo a DECO, cerca de 73% das crianças em Portugal vêem televisão. Não é desculpa nenhuma mas assim tenho a certeza que o alerta tem mais sentido. A ideia não é fazer da televisão um bicho papão ou bode expiatório de todos os males, afastar irmãos mais velhos e mais novos da mesma sala ou tirar-lhes o prazer de verem o programa preferido, mas mostrar-lhes que a televisão é apenas uma das muitas atividades que podem fazer e termos consciência - nós, pais, família, educadores e cuidadores - das consequências nocivas que pode ter no desenvolvimento dos nossos filhos. Nestes temas relacionados com as crianças percebemos rapidamente que não há verdades absolutas - é bom estarmos informados mas a gestão das regras faz-se com flexibilidade, bom senso e criatividade.

Mais sobre as consequências sobre o uso excessivo da televisão aqui (em português) e sobre a regra 3-6-9-12 aqui e aqui (em francês)




sábado, maio 30

Dilemas de mãe #3


Comprar brinquedos novos que achamos que ele vai adorar, mas chegarmos à conclusão que só quer mesmo é saber das etiquetas. 

sexta-feira, maio 29

Tão feliz que apetece dançar


Sabem quando estamos tão felizes, mas tão felizes que sorrimos na rua e achamos que toda a gente nos sorri de volta? Em que só nos apetece dançar em vez de andar? Em que parece que bebemos três copos do nosso vinho preferido sem termos bebido nenhum? Hoje é um desses dias. 

A única coisa que posso dizer mais sobre isto: quando temos a coragem de de nos ouvirmos e de fazermos as escolhas mais acertadas em função disso, tudo corre de feição. 

quinta-feira, maio 28

Ansiosa por.... praia!



Não vejo a hora de levar estes pézinhos até à areia e de vê-los a explorar as novas texturas, a sentir os salpicos do mar. Ainda é muito cedo para grandes banhos mas sempre ouvi dizer que os miúdos se desenvolvem muito na praia onde há tanto espaço para gatinharem, caírem e rebolarmos juntos. E esse contacto direto com a natureza é tão importante e tão raro quando se vive em Lisboa.  Esta como outras coisas importantes quero que seja feita a três. Breve breve.

Dilemas de mãe #2


Odiar estar constipada com bom tempo lá fora era dantes. Agora é odiar passar o bicho ao bebé e ouvi-lo toda a noite a fungar. Deixamos de estar doentes por nós, ficamos doentes por eles. Cheira-me que nos próximos dias vou tirar do armário o fato de mãe enfermeira. E os aerossóis.

quarta-feira, maio 27

Londres: a primeira viagem sem ele(s)



Fiz há poucos dias a primeira viagem sem os meus homens. Já tinha feito sem o homem grande mas, claro, nunca sem o meu homem minúsculo. A decisão foi tomada num impulso, em janeiro, quando o Henrique ainda tinha só três meses e a maternidade ainda se estava a impregnar de mim, devagarinho.

Desde o primeiro mês que o deixamos com os avós e as tias para ir arejar mas sempre controladamente, sempre por um par de horas ou na loucura de um casamento, uma tarde e um serão. Nessas primeiras vezes, e até há não muito tempo, morria de saudades, corroía-me por deixá-lo e desunhava-me a deixar a logística toda pronta para quem viesse.

Desta vez também preparei afincadamente o que seria preciso com carinho, mas além de ficar com os avós, nos quais tenho toda a confiança para lidar com ele, ia ficar com o pai. Talvez por tudo isto doeu menos. Permitiu-me viver, ser só eu outra vez, por a vida em perspetiva, arrumar ideias, caminhar horas sem estar a pensar na fralda que tenho de mudar e em todas as rotinas necessárias a um bebé mas tão avessas a quem nunca gostou de calendarizar demasiado a vida, de aprofundar a relação com a minha prima a quem fiz companhia. E até de maturar a ideia de voltar a ter um blogue.

E não me sinto culpada de ter tido muitas saudades mas de não ter morrido, de não ter ficado incapacitada de usufruir da oportunidade que me estava a ser dada porque acredito piamente que pais completos e resolvidos consigo mesmos (e viajados!) só podem dar crianças muito felizes. (Ou isto ou estou a ser uma enorme egoísta.)

Reencontrá-los e o grande sorriso do minúsculo quando me viu foi tão grande que me apeteceu agradecer mil vezes aos dois por fazerem de mim uma pessoa realizada.

(Agora que a maternidade já se apoderou de mim até às entranhas das entranhas, talvez pense duas vezes ao tomar estes impulsos. Contradições que fazem parte do processo.)

terça-feira, maio 26

Ma-ma-ma-ma-ma!

Começou há dois ou três dias a dobrar a sílaba "ma" e quase parece mamã. Apesar de não ter ficado muito babada porque acho que ele ainda não percebe o sentido do que está a dizer, quando hoje gritou ma-ma-ma-ma-ma na cama enquanto choramingava para adormecer, não consegui resistir-lhe. À conta disto, embalei-o ao colo até adormecer, coisa que só faço em situações absolutamente excecionais para não haver maus hábitos. Deliciei-me, claro, mas fiquei um bocadinho arreliada deste coração de mãe se dobrar tão facilmente por este malandreco. 

O que ele vai ser quando for grande

O que é que o nosso filho vai ser quando for grande? A resposta típica "feliz" basta-me mas o pai consegue ainda ser mais expressivo. Não se importava que o Henrique fosse artista - músico, pintor, bailarino... -  porque "não há nenhum artista que o seja por obrigação, pois não?", diz. Casei com o homem certo.


segunda-feira, maio 25

Des-materializar a casa: do prazer de me desprender dos objetos




Deitar fora catrefadas de coisas que não precisamos lava durante alguns instantes a alma. Tenho uma regra cá em casa que vou tentando cumprir (um pouco desregradamente): sempre que entra uma coisa, tem de sair outra - quer seja para dar a alguém, devolver, para reciclar ou simplesmente para deitar fora. Há sempre um casaco que já nos está demasiado pequeno ou cheio de borbotos, um jornal de há três semanas atirado a um canto, um cabo de uma máquina fotográfica que já não usamos ou um tupperware que não nos pertence. Para quê ter coisas estragadas, partidas, desnecessárias ou que não são nossas? Ia tentando cumprir isto até entrarem milhões de coisas emprestadas para o Henrique e sentir que tenho a casa cheia de tralha para devolver ou à espera dos irmãos. Preciso de espaço. Mental também.


Os nossos dias: leituras para recém-nascidos e mais além



Quando se quer acalmar uma criança, tenta-se de tudo (mesmo de tudo) mas nunca pensei que a leitura, algo que aparentemente só começaria a ter maior impacto quando os bebés começam a falar e a perceber-nos melhor, tivesse um efeito tão tranquilizante num recém-nascido. Comecei a ler para o Henrique tinha ele menos de dois meses e se, nessa altura, achava que o maior efeito era o reconhecimento da voz que ele tinha ouvido dentro da barriga, agora, tendo ele sete meses, acho mesmo que, além desse motivo ele se entusiasma com os livros e com a história através de mim.

Quando está mais agitado e já brincámos e passeámos tudo o que podíamos, deito-o ao meu lado, em cima da nossa cama ou numa manta no chão, e leio-lhe simplesmente até ele se fartar. A ilustração é sem dúvida um fator importante mas a voz em constância e algum jeito para ir personificando os personagens, ou para encontrar uma história para os livros que têm menos texto, fazem maravilhas. Fica muito atento, nunca adormece enquanto leio e o fascínio pelo objeto livro não deixa de ser curioso. O mais engraçado é que gosta também de por as mãos nas minhas bochechas e boca para perceber de onde saem os sons e talvez a vibração. E assim a leitura ganha ainda um significado maior, além de ser uma aprendizagem enorme para a vida dele, torna-se um momento de ternura.

Os nossos livros preferidos são sem dúvida os da Planeta Tangerina - "Quando eu Nasci", "Pê de Pai" e o "Coração de Mãe", o trio perfeito oferecido pela minha mãe ao neto ainda antes dele nascer -, "O Pai Mais Horrível do Mundo" porque dá para inventar muito à volta das frases curtas, o "Ungali" que tem muitas exclamações engraçadas, e o "Poemas pequeninos para meninas e meninos", cujas rimas servem um bocadinho de embalo. Entretanto fomos comprando mais e trazendo alguns livros da nossa infância como a coleção do Bolinha e outros clássicos, nada especialmente vocacionado para a idade dele porque acho que, desde que tenham algumas imagens coloridas, com alguma imaginação se pode ir orientando a leitura.

domingo, maio 24

Dilemas de mãe #1

Porque é queremos tão desesperadamente adormecê-los e pouco tempo depois só nos apetece ir lá cheirá-los e estrafegá-los com beijinhos?

Trabalhadora por conta dele, de nós




Decidi ser mãe a tempo inteiro. Talvez surjam alguns trabalhos soltos mas só farei aquilo que não me impedir de ficar com o meu filho em casa. Para uns, fiz a escolha mais fácil - ficar em casa no bem bom, ser dondoca, dedicar-me às toilettes da criança, à organização da casa e aos petiscos para o marido. Mais ainda com empregada uma manhã em casa - sacrilégio, o que é que ela vai fazer afinal? Tomar chá com as amigas? (Também. Mas só fora do tempo laboral delas e deles.) Os outros entendem a dificuldade da escolha - abdicar de uma vida profissional (por meia dúzia de anos - será?) à beira dos 30 (esquece, ninguém te vai contratar a seguir a "isso"), mergulhar nas rotinas de um bebé e em breve de outro, e talvez mais outro logo a seguir sem grandes ajudas. O que é que me deu afinal?

Fora do ruído de todas as opiniões e teorias que acompanham a parentalidade, nunca encarei a vida com um plano fixo. Fujo cronicamente de tudo o que me faz infeliz e depois das hormonas do pós-parto que fazem de nós super-mulheres (logo a seguir ao babyblues, esse bicho papão), percebi que nunca tinha feito nada tão compensador como cuidar do meu filho. Juntando esta vontade de prolongar sem fim a licença de maternidade a um trabalho que me foi deixando menos feliz progressivamente, decidimos - a dois - que talvez não se perdesse assim tanto na economia familiar com menos um salário. Talvez até ganhássemos todos em amor, atenção, equilíbrio.

Aos sete meses de licença prolongada, preparo-me assim para dizer até já ao trabalho por conta de outrem e passar a trabalhar por conta dele, de nós. Neste caminho que começo agora a percorrer este blogue servirá para não me esquecer daquilo que pensei em cada fase do crescimento do meu filho, das alegrias às angústias, para me obrigar a ter tempo para mim, para pensar, para me divertir. No fundo, para ser a mãe forte que eu gostaria de ser e inspirar outras mulheres que queiram fazer a mesma escolha. O que vão poder encontrar aqui? Tudo o que pode envolver o dia-a-dia de uma mãe, mesmo quando não parecemos mães.