domingo, julho 26

Os momentos que não fotografamos são os melhores

Não sou uma óptima fotógrafa, nem acho que deva andar sempre de telemóvel ou câmara em punho. Sou terrível a escolher filtros no Instagram. Por mais que tente partilhar em imagens fragmentos da minha vida, eles serão sempre apenas resquícios da essência dos meus dias, daquilo que realmente vejo com os meus olhos. Quando estou a viver momentos mesmo bons é quase um esforço lembrar-me que quero registar aquilo em fotografia, porque eu sei que o melhor vai mesmo ficar guardado dentro de mim. Também é por isso que adoro sessões fotográficas e me disponho a abrir a porta da minha casa e a mostrar-nos nas nossas imperfeições, ainda que seja difícil, porque de outra forma teria muito poucas fotografias em condições. Gosto tanto de arte que estudei a sua História na faculdade, mas sou incapaz de produzir algo artístico no domínio da imagem. Aqui encontram, por isso, muito mais textos do que fotografias, com o filtro do meu olhar sobre as coisas, com a rapidez ou a lentidão que a vida permite, com a peneira dos valores que os meus pais e o mundo me deram, com as gralhas de cansaço e da necessidade imediata de partilhar uma ideia. E por muito que estejamos num tempo em que se vêem muito mais imagens do que se lêem textos, espero que estes dias valham a pena porque, tal como não acredito que um artista passe a vida a pintar telas em branco, ou a procurar encontrar o brilho de um vidro, ou ainda o equilíbrio perfeito das cores, se não fosse por uma obcecada paixão e determinação, acreditem também que não insistiria em pôr esta minha família em primeiro lugar na minha vida e em falar sobre todos os detalhes que nela me despertam curiosidade, se não fosse pelos mesmos motivos.

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