domingo, julho 5

Quantas atividades cabem em 2h30 de uma manhã de domingo?

07.30 Chora. Salto da cama. Ponho chucha. Lavo as mãos e dignifico-me minimamente. Vou fazer biberon. Tiro da cama e dou abraços e beijinhos de bom dia. Dou biberon. Brinco com ele. Mudo fralda. Tiro pijama sujo e ponho body. Como enquanto brinca. Quer o meu pão e iogurte, dou côdea para roer e um bocadinho do meu iogurte. Tiro loiça da máquina e volto a lavar a que não ficou bem limpa. Ponho loiça suja. Canto. Vou apanhando brinquedos e lavando para voltar a dar. Ponho água a ferver para cozer frango. Distribuo sopa que ainda estava na panela por frascos. Descasco pêssego, pico e ponho em frasco para o almoço. Encho de ar almofada da cadeira da papa que já estava mole. Varro o chão das migalhas que ele fez. Ponho-o na espreguiçadeira a brincar. Tomo banho, maquilho-me e visto-me. Sento-o no chão a brincar. Descoso e coso novamente botões das jardineiras para ficarem maiores. Chora porque deu com um boneco na cara. Consolo. Volto a mudar a fralda. Ponho-o na cama para descansar um bocadinho, já está rabugento de sono. Desosso o frango e ponho a arrefecer. Faço máquina de roupa. Volto ao quarto várias vezes para pôr a chucha. Não dorme mas está podre. Chora. Embalo uma vez. O meu menino é d'oiro, é d'oiro o meu menino. Ponho no berço. Chora. Volto a embalar. Ponho na cama. Dorme. Escrevo um post e descanso por uns minutos.

Este post é um exercício sobre mim só por acaso. Não quero com ele vangloriar-me do que faço ou do que deixo de fazer. O pai acordou três vezes durante a noite e eu não, por isso não entrou nestas atividades matinais. Tenho a certeza que cabem muito mais tarefas na agenda de pais de dois, três, quatro, cinco ou mais filhos. Desejo-vos um dia tão feliz como o nosso.


sábado, julho 4

A minha mãe é mais textos



Eu bem peço que me tirem fotografias com ele, mas não é fácil consegui-las. Somos mais de viver do que de registar por aqui. São tão poucas que isso me entristece um bocadinho porque adoro ver as fotografias que tenho com a minha mãe . Vou continuar a batalhar por momentos destes, que isso das selfies não é bem a mesma coisa...

sexta-feira, julho 3

Irritações

Semana de exaustão, rotinas de descanso nem sempre cumpridas, muitas birras pelo meio, adaptação a uma nova fase do Henrique mais mexediça, com agenda pontuada por vários programas óptimos mas intensos. Nada de novo, a vida não é perfeita para ninguém mas não precisamos de nos conformar com isso ou de falar só das coisas boas. O que me chateia é nem sempre sentir que me posso queixar como qualquer pessoa que trabalha e chega a sexta-feira exausta, a maldizer o patrão e a precisar de um copo, sem que venham questionar a minha escolha de ficar em casa e de ter filhos. (Prefiro mil vezes este cansaço e não preciso de andar sempre a repetir que esta é a vida que escolhi e que não a trocava por nada neste preciso momento.) 

Nada que um bom copo de vinho branco, peixe fresquissimo grelhado e morangos aromáticos, comprados no mercado esta manhã, e uns quadradinhos de chocolate, a dois, não tenham resolvido.  

quinta-feira, julho 2

Oito


Eu podia gostar de ti para sempre sem que me desses nadinha em troca. Os primeiros meses, só os três, foram um bocadinho duros com todas aquelas cólicas do demónio, alguma dificuldade em adormecer-te e, apesar de te teres tornado um santo bebé que dorme noites quase inteirinhas e come tudo o que lhe puserem à frente, lá vais fazendo a tua birrinha diária de demarcação de território. Estamos cá para te mostrar quem manda ainda durante uns bons anos, para cuidar de ti e para te amar. Quiseste primeiro retribuir-nos com um sorriso, depois gargalhaste connosco, comes as nossas bochechas com baba, já pões os bracinhos à volta do nosso pescoço e este mês deste-me a mim o maior presente de todos: gritaste mamã, não uma mas muitas vezes. O que é que eu poderia querer mais? Nadinha de nada.

Mas não, além disso, ainda passaste a mostrar a toda a gente que me queres a mim, à tua mãezinha. Estendes-me os braços quando estás farto do mundo, choras desalmadamente, como se fosse emigrar, quando saio do teu quarto, nunca apreciaste tanto adormecer no meu colo como agora, deliras que vá no carro a dar-te a mão e a fazer-te festinhas e ficas louco quando te dou beijinhos nos sinais vermelhos. Já estás maior mas afinal parece que até gostas de ser pequenino outra vez, que gostas de ser o menino dos papás. Para mim, foi o melhor mês de sempre (não tinha sido o anterior afinal?), a consagração. E podia parar por aqui mas aconteceram muito mais coisas:

...Já gatinhas, mas só para trás! Adoras enfiar-te debaixo de cadeiras, mesas... chegas onde queres a rebolar, mas para a frente ficas ali indeciso a abanar-te, sem saber pôr um joelho à frente do outro. Parece que vais arrancar a todo o momento, falta só um bocadinho para perceberes melhor essa dinâmica.

...Começaste a dizer adeus com a mão e pareces felicíssimo com a proeza.

...Deixaste de ter medo da guitarra do papá e passámos a incluí-la nas nossas brincadeiras, adoras dedilhar e bater na madeira.

...As idas à piscina inundaram os nossos domingos de manhã de felicidade (pena que pare no verão mas iremos de férias para a praia em breve para te exercitares). O pai regalou-se a chapinhar contigo no meio dos outros pais e bebés, foi maravilhoso ver-vos ganhar essa confiança um no outro. Também experimentei uma vez e adorei todo o teu à vontade na água, não tens medo nenhum.

...Aproveitando a deixa ele passou a dar-te duche de manhã, para aproveitarem todos os minutos que ele tem contigo em casa. Gosto do à vontade que já ganharam os dois nesta tarefa de perícia.

...Agora já não estranhas nenhum dos teus avós ou tias, chegas e arrasas os corações todos com os teus arrulhos de pombo e turras. Ninguém aguenta tamanha paixão de bebé.

Estás um menino às direitas. Se soubesse o quanto era bom ter filhos, já teria começado há mais tempo, mas depois penso que, se assim fosse, provavelmente não existirias tu e por isso está tudo muito bem assim contigo, neste tempo tão certo que é o teu e o nosso.

terça-feira, junho 30

Uma família do tipo "Amo-te"


Para quem cresceu tão tímida na verbalização e concretização dos afetos como eu, que demorei anos a conseguir aprender a dar aquele abraço forte sem constrangimentos, há poucas coisas tão íntimas como dizer "Amo-te". É esse tipo de família que partilha sentimentos que quero, sem constrangimentos na linguagem dos afetos mas sem cair em banalidades. Não saberia construir este edifício sem o meu cúmplice maior.

segunda-feira, junho 29

Desafio mãe/sogra


Desde que fui mãe pela primeira vez que tenho tentado ganhar confiança neste papel, mas nem sempre é fácil e muitas vezes há quem saia um bocadinho mais atingido neste processo, sobretudo as pessoas mais experientes e com sentido de iniciativa que, ao quererem ajudar, acabam por nos fazer sentir mais limitadas nessa descoberta. No meu caso, cliché dos clichés, foi a minha sogra querida, a quem já confessei por diversas vezes a dificuldade que tenho em partilhar este ser maravilhoso que ambas amamos - o nosso Henrique. E é porque ela sabe que tento melhorar que me sinto confiante de escrever aqui sobre o assunto.

Conscientemente, quero que ele tenha a melhor relação possível com os avós de ambos os lados, que guarde memórias tão boas da infância com eles, quanto eu com os meus, e que nós possamos também usufruir um bocadinho do tempo a dois e com os nossos amigos, graças à ajuda preciosa deles. E, na realidade, é isso tudo que tem acontecido. Por motivos de disponibilidade e porque vamos visitá-los muitas vezes, acho que o Henrique nem nunca ficou tanto tempo com alguém como com os avós de Coimbra, os meus sogros, em quem tenho a maior da confiança - não fossem eles os pais de dois filhos maravilhosos  - um deles o homem que escolhi para partilhar todos os meus dias (há melhor argumento?).

Na prática, há por vezes desencontros de opiniões sobre um ou outro aspeto de educação ou na forma de nos relacionarmos com o bebé, em que nós pais temos opiniões específicas baseadas naquilo que vamos aprendendo e que estamos a tentar aplicar (não queremos que ele fique baralhado com as regras) ou fruto da experiência que temos por naturalmente conhecermos melhor o nosso filho. Quanto mais segura me sinto como mãe e mais consciência tenho das necessidades do nosso bebé, porque passo a maior parte do tempo com ele, mais facilidade tenho em chegar-me à frente e resolver, com ajuda de uma boa gargalhada, às vezes, estas pequenas questões tentando transmitir-lhes as manias dele - e as minhas - de fase para fase, partilhando as nossas preocupações e aproveitando todos os momentos em que posso deixá-lo com os avós para fazê-lo, para que todos possamos adorar este bebé querido, conscientes que nós somos os pais, eles os avós e cada um tem o seu papel fundamental.

Por tudo isto, e porque assumo que o meu feitio pode ser muito crítico, mas sei que sou tendencialmente conciliadora e que tenho a sorte de estar a lidar com avós amorosos e cheios de boa vontade, acho que temos conseguido chegar a bom porto e que temos sabido gerir estas pequenas diferenças. Decidi por isso aventurar-me e convidar a minha sogra para escrevermos juntas uma série de dicas de boa convivência de noras e sogras no que respeita aos filhos/netos, um guia prático que para nós será muito útil e espero que também possa servir a tantas tantas amigas, quase todas, que se sentem e ressentem com estas questões. Em breve partilharei aqui os frutos desse trabalho conjunto. O desafio está lançado!

sábado, junho 27

Mãe bulldozer



A maternidade está associada a imagens ternas, gestos suaves e sons delicodoces mas dou por mim todos os dias a sentir que o retrato não está completo. Além dessa parte fofinha, que esta lá, claro, encontrei escondido em mim um autêntico bulldozer que abre e fecha um carrinho 10 vezes por dia e o atira para dentro da mala do carro, que carrega um bebé de quase 10 kg num braço, enquanto transporta diversos objetos no outro, que abre portas pesadas para deixar passar o dito carrinho, a criança e vários sacos de compras do supermercado, que aprende que há partes do corpo, nomeadamente traseiras, que servem para empurrar variadíssimas coisas. Mãe de alma e corpo inteiros portanto. 

Imagem: Nick Veasey